Morreu nesta quinta-feira, 4, às 17 horas, Dona Emília Nunes de Oliveira Puruborá, com 80 anos. Nascida em 1933 na aldeia Puruborá, às margens do rio Manuel Correia, hoje município de Seringueira, Rondônia, era a matriarca do povo Puruborá.
Dona Emília teve 17 filhos e criou 10 deles, entre eles Hosana Puruborá, importante liderança do povo, vivendo no Rio Manuel Correia com muito esforço e luta. Dona Emília sofreu com as discriminações do Serviço de Proteção do Índio e depois da própria Fundação Nacional do Índio (Funai), que dava como extinto o povo Puruborá. Em meados da década de 90 foi expulsa de sua própria terra pela Funai.
Sem moradia, o esposo de Dona Emília queria migrar para Guajará Mirim. Ela afirmou: “Você pode ir, porém, eu e minha família ficaremos aqui”. Vendendo seus bens, conseguiu comprar um lote dentro do próprio território tradicional do povo Puruborá, às margens da BR-429, próximo ao rio Manuel Correia.
Marechal Rondon contatou o Povo Puruborá em 1919, no rio Manuel Correia, afluente do rio São Miguel, onde fez a demarcação da terra. Em 1925, Bejamim Rondon, filho do Marechal, reabriu a demarcação.
No final do ano 2000, o Cimi Regional Rondônia encontrou a família de Dona Emilia Puruborá, que contou sua história e pediu ajuda para recuperar a terra tradicional. Com informações dela outras família foram localizadas.
O esforço de Dona Emília para ver a terra demarcada era grande. Em 2001 foi realizada a primeira Assembleia do Povo Puruborá – na casa da própria matriarca. A professora Ruth Montserrat participou do encontro e conseguiu levantar um acervo de 200 palavras Puruborá. Lembrando a cultura, os ancestrais, pajés e identificado o território tradicional o povo Puruborá mostrou estar disposto a lutar por suas terras imemoriais.
Dona Emilia foi a grande motivadora e incentivadora da luta pela retomada do território, com sua forma silenciosa sempre esteve presente. Sua casa deixou de ser espaço individual, transformando-se num símbolo de luta e resistência, chamada de Aldeia Aperoy. Este lar é o espaço do reagrupamento do povo que tanto sofreu com a discriminação, falta de terra. Tornou-se o lugar de estar juntos, voltar a falar a língua e produzir e reproduzir a cultura.
Em 2001 eram 11 os sábios anciãos desse grupo que restaram do massacre. Com suas vozes mansas, mas firmes, estão conduzindo o povo com sabedoria e perseverança para a reconquista das terras e a volta do Bem Viver Puruborá. A morte de Dona Emília representa a de mais uma anciã que não conseguiu ver o seu território demarcado e regularizado conforme o sonho e desejo. Por isso, Dona Emilia será enterrada na Aldeia Aperoy, espaço do território tradicional ainda não demarcado.
Dona Emília, teu povo e teus aliados continuarão a luta pela regularização do território tradicional, porque teu espírito unido a teus antepassados marcarão a vitória do povo resistente neste lugar sagrado. Dona Emília, que a terra sagrada que te viu nascer, crescer e lutar por ela também acolha teu corpo.
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